quarta-feira, 28 de março de 2012

MORRE O CRIADOR DO PASQUIM: MILLÔR FERNANDES




A presidente, Dilma Rousseff, divulgou nota nesta quarta-feira em que destaca os talentos e elogia o desenhista, jornalista, dramaturgo e escritor Millôr Fernandes, que morreu na noite de terça-feira (27), aos 88 anos.

Dilma afirma, na nota, que Millôr foi um gênio brasileiro, ícone do humorismo.

"Brilhante jornalista, com a mesma maestria tornou-se escritor, cartunista e dramaturgo. Autodidata, traduziu para o português dezenas de obras teatrais clássicas. Atuou em diversos veículos de comunicação, além de ter sido fundador de publicações alternativas", disse a presidente.

"Com sua morte, o Brasil e toda a nossa geração perdem uma referência intelectual", concluiu Dilma.
REPERCUSSÃO

(...)
Para ministra da cultura, Ana de Hollanda, "Millôr Fernandes, além de filósofo do nosso cotidiano, com um humor cáustico, foi excelente cronista, dramaturgo, tradutor, jornalista e desenhista".

"Ele lançou um estilo que influenciou fortemente a cultura brasileira, em especial a de resistência política nos anos da ditadura militar. Faço parte dos milhares de leitores e admiradores que Millôr adquiriu em vida e continuará conquistando através de sua obra. Uno minha solidariedade aos parentes, amigos e admiradores, neste momento doloroso", declarou a ministra.
(...)

CONVALESCENÇA

Em fevereiro do ano passado, Millôr Fernandes sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico. Em novembro de 2011, ele recebeu alta após uma temporada de quase cinco meses internado na Casa de Saúde São José, em Botafogo, zona sul do Rio.

De acordo com a família, Millôr sofreu falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca na noite de terça. O velório será aberto ao público nesta quinta-feira (29), das 10h às 15h, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio. Após o evento, o corpo será cremado em cerimônia restrita à família.

Millôr deixa dois filhos, Ivan e Paula, frutos de seu relacionamento com Wanda Rubino. Dois de seus irmãos são vivos: Ruth, que mora no Equador, e Hélio, proprietário do jornal "Tribuna da Imprensa".

BIOGRAFIA

Nascido no bairro do Méier, no Rio, Millôr nasceu Milton Fernandes em 23 de agosto de 1923, mas foi registrado em 27 de maio de 1924. Anos mais tarde, ao ler sua certidão de nascimento percebeu que o "T" se assemelhava a um "L" e o "N", inconcluso, parecia um "R", sugerindo a grafia Millôr em vez de Milton. Assumiu-se, então, Millôr.

Millôr perdeu os pais ainda criança --o pai morreu de intoxicação quando ele era bebê e a mãe, vítima de câncer, quando ele tinha dez anos.

Em 1938, aos 14, Millôr entrou no Liceu de Artes e Ofícios e começou a trabalhar profissionalmente na revista "O Cruzeiro". Naquele momento, se tornaria um dos principais nomes do jornalismo e das artes no Brasil. Registros constatam, inclusive, que, no período em que ele ficou no "Cruzeiro", as vendas subiram de 11 mil para 750 mil exemplares.

Foi também um dos criadores do jornal "PifPaf". Apesar de ter durado apenas oito edições, considera-se que a publicação deu início à imprensa alternativa no Brasil. Ele foi ainda um dos colaboradores de "O Pasquim", reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar.

Com diversas aptidões --para o desenho, a prosa, a poesia, o teatro, a literatura e a tradução--, raramente se sentia frustrado. Foi premiado como desenhista (dividiu com seu ídolo Saul Steinberg [1914-1999] o primeiro lugar na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1955) e requisitado como tradutor (de Shakespeare, Molière, Sófocles, Bernard Shaw).

Também escreveu peças célebres como "Liberdade, Liberdade" (1965), em parceria com Flávio Rangel, e que se tornou uma das obras pioneiras do teatro de resistência ao regime militar. A montagem foi encenada pelo Grupo Opinião, com Paulo Autran e Tereza Rachel no elenco.

Millôr Fernandes publicou mais de 50 livros a partir de 1946, boa parte compilando textos humorísticos e desenhos feitos para a imprensa. Entre eles, "Fábulas Fabulosas" (1964) e "A Verdadeira História do Paraíso" (1972). Veja outras de suas publicações "[aqui]".http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1068385-veja-cronologia-e-algumas-obras-de-millor-fernandes.shtml.

Entre os múltiplos talentos de Millôr também estava o de roteirista. Foram mais de dez roteiros criados para o cinema, individualmente --"Modelo 19" (1952, mais conhecido como "O Amanhã Será Melhor"; "Amor para Três" (1960), "Ladrão em Noite de Chuva" (1960); "Esse Rio que Eu Amo" (1962), "Crônica da Cidade Amada" (1965), "O Menino e o Vento" (1967) e "Últimos Diálogos" (1995)-- ou em parceria, como "O Judeu" (1995), com Geraldo Carneiro e Gilvan Pereira, e "Mátria" (1998), com Carneiro e Jom Tob Azulay. Em "Terra Estrangeira" (1995), dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, participou com diálogos adicionais.

Millôr foi uma das primeiras personalidades brasileiras a ter espaço na internet, inaugurando seu site, que segue no ar até hoje, no ano 2000. No Twitter, tem mais de 368 mil seguidores.

POLÍTICA E JORNALISMO

Seu humor crítico e inclemente lhe traria problemas também com governantes, desde o presidente Juscelino Kubitschek (que censurou seu programa "Treze Lições de um Ignorante", na TV Tupi Rio, após uma piada com a primeira-dama) até os militares que atacaram "O Pasquim" --jornal que ele ajudou a criar-- durante a ditadura.

A política também causaria o fim de seu primeiro período como colaborador da revista "Veja" (1968-1982), quando se negou a cessar o apoio público a Leonel Brizola nas eleições para governador do RJ em 1982.

Em setembro de 2004, voltaria à "Veja", mas sairia cinco anos depois --seu contrato não seria renovado após Millôr questionar (a princípio extrajudicialmente) a publicação de suas colunas antigas na edição digital da revista.

Na Folha, Millôr Fernandes assinou uma coluna semanal, no caderno dominical "Mais!", entre julho de 2000 e agosto de 2001.

Foi neste período que escreveu texto que lhe rendeu processo do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), após dizer que seu projeto de restringir termos estrangeiros na língua portuguesa era "uma idioletice".

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1068468-brasil-perde-referencia-intelectual-com-morte-de-millor-diz-dilma.shtml

segunda-feira, 26 de março de 2012

DEU NA SCIENCE AND DEVELOPMENT NETWORK: CORTES NA C&T NO "BRAZIL"



Scientists protest against fresh S&T budget cuts
Luís Amorim
6 March 2012 | EN
[RIO DE JANEIRO] Science agencies in Brazil have voiced concern at the government's decision to cut the science, technology and
innovation (ST&I) budget by nearly a fifth.
The US$3.8 billion (6.7 billion Brazilian reals) Ministry of Science, Technology and Innovation (MSTI) budget for 2012 — which had already
been approved by Congress — was cut last month (15 February) by around US$850 million, as part of efforts to cut the overall budget by
US$31 billion.
Funding for science increased year on year throughout the eight-year presidency of Luiz Inácio Lula da Silva, whose time in office was
characterised by strong support for science.
But the ministry's budget has now shrunk for a second year in a row under the new president, Dilma Rousseff, despite promises to continue
her predecessor's policies.
Overall funding now stands at around a third of what it was in 2010 — a worrying trend, according to Luiz Davidovich, director of the Brazilian
Academy of Sciences.
"Last year's reduction could have been seen as an 'accident' — reflecting the government's intention to balance the budget in the context of the global economic
crisis. But a second cut starts to look like government policy," he told SciDev.Net.
The Brazilian Society for the Advancement of Science (SBPC) and the Brazilian Society of Physics (SBF) have both sent public letters of protest to the government.
The president of the SBPC, Helena Nader, told SciDev.Net that Rousseff is giving contradictory messages about her government's intentions on the future of ST&I
investment.
Nader said Rousseff had highlighted the importance of ST&I in the country's 'Major Plan', issued in August 2011, and again when appointing Marco Antonio Raupp as
Brazil's new science minister in January of this year.
"In spite of that, the budget has been significantly cut back — and our understanding is that the president reviews all such cuts," said Nader.
In its public note of protest, the SBF said it was concerned and disappointed at the decision to impose fresh cuts at a time of increasing gross domestic product
(GDP).
Davidovich and Nader said the budget cuts will affect productivity, and make Brazil less attractive to scientists — possibly exacerbating brain drain.
"What successful researcher would want to exchange a country with a stable investment for a country where they do not know what is going to happen next month?"
Nader said.


Fonte:
http://www.scidev.net/en/science-and-innovation-policy/finance/news/scientists-protest-against-fresh-s-t-budget-cuts.html

DEU NA NATURE: PESQUISADORES BRASILEIROS REAGEM CONTRA OS CORTES NO ORÇAMENTO



NATURE | FROM SCIDEV.NET
Brazilian researchers protest budget cuts
Science, technology and innovation spending will fall by 20%.
07 March 2012
RIO DE JANEIRO
An article from SciDev.Net
Science agencies in Brazil have voiced concern at the government's decision to cut the science, technology and
innovation (ST&I) budget by nearly a fifth.
The US$3.8 billion (6.7 billion Brazilian reals) Ministry of Science, Technology and Innovation (MSTI) budget for
2012 — which had already been approved by Congress — was cut last month (15 February) by around US$850
million, as part of efforts to cut the overall budget by US$31 billion.
Funding for science increased year on year throughout the eight-year presidency of Luiz Inácio Lula da Silva,
whose time in office was characterised by strong support for science.
But the ministry's budget has now shrunk for a second year in a row under the new president, Dilma Rousseff, despite promises to continue her predecessor's policies.
Overall funding now stands at around a third of what it was in 2010 — a worrying trend, according to Luiz Davidovich, director of
the Brazilian Academy of Sciences.
"Last year's reduction could have been seen as an 'accident' — reflecting the government's intention to balance the budget in the
context of the global economic crisis. But a second cut starts to look like government policy," he told SciDev.Net.
The Brazilian Society for the Advancement of Science (SBPC) and the Brazilian Society of Physics (SBF) have both sent public
letters of protest to the government.
The president of the SBPC, Helena Nader, told SciDev.Net that Rousseff is giving contradictory messages about her government's
Brazilian scientists are concerned by President Dilma
Rousseff's second year of budget cuts.
Nader said Rousseff had highlighted the importance of ST&I in the country's 'Major Plan', issued in August 2011, and again when appointing Marco Antonio Raupp as
Brazil's new science minister in January of this year.
"In spite of that, the budget has been significantly cut back — and our understanding is that the president reviews all such cuts," said Nader.
In its public note of protest, the SBF said it was concerned and disappointed at the decision to impose fresh cuts at a time of
increasing gross domestic product (GDP).
Davidovich and Nader said the budget cuts will affect productivity, and make Brazil less attractive to scientists — possibly
exacerbating brain drain.
"What successful researcher would want to exchange a country with a stable investment for a country where they do not know what
is going to happen next month?" Nader said.


Nature doi:10.1038/nature.2012.10187
This article was originally published by SciDev.Net on 6 March 2012.

sexta-feira, 16 de março de 2012

LUTO NA CIÊNCIA: MORRE AZIZ AB'SABER



É com profunda tristeza que anunciamos a morte do nosso querido Prof. Aziz Ab'Saber, ex-presidente da SBPC, presidente de honra, conselheiro, mestre e grande intelectual.
Faleceu em casa no dia de hoje às 10h...

DEU NA FOLHA DE S.PAULO: CORTES EM CIÊNCIA - DA PRESIDENTA DA SBPC



O ASSUNTO É POLÍTICA CIENTÍFICA

CORTES EM CIÊNCIA E O PAÍS EM MARCHA À RÉ

Em nome do superávit primário, eles causarão prejuízos muito grandes na competitividade da indústria brasileira; não é uma questão corporativa ou salarial
Os cortes de R$ 1,48 bilhão (22%) e de R$ 1,93 bilhão (5,5%), respectivamente, nos orçamentos dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC), anunciados recentemente pelo governo federal, são deveras preocupantes quando se tem como compromissos o desenvolvimento sustentável, a competitividade da economia brasileira e o bem-estar de nossas gerações presentes e futuras.
Não se duvida das necessidades macroeconômicas que levaram o governo a promover uma redução de R$ 55 bilhões em seus gastos em 2012. Mas não podemos concordar que, em nome do aumento do superávit primário e da redução da dívida pública, seja comprometido o futuro do Brasil e dos brasileiros.
Não sabemos o quanto os cortes no MCTI e no MEC ajudarão no desempenho das contas federais, mas temos certeza sobre as suas repercussões na vida do país: prejuízos às medidas que visam reduzir o nosso inaceitável déficit educacional e à projeção no cenário científico e tecnológico mundial, além da diminuição da já precária competitividade da indústria brasileira.
Esses aspectos, convenhamos, não condizem com a condição de sexta economia mundial, posição que foi comemorada pelo governo.
Educação de qualidade e produção de C&T avançadas são prioridades para o desenvolvimento nacional. Para ficar na comparação apenas com dois emergentes, a Coreia do Sul ocupa a 15ª posição no ranking de IDH e tem renda per capita PPC (paridade de poder de compra) de US$ 31.753; a Finlândia tem a 22ª posição no IDH e renda per capita PPC de US$ 40.197.
Já o Brasil ocupa a 84ª posição, com renda per capita PPC de US$ 11.767. Os investimentos públicos e privados em P&D (pesquisa e desenvolvimento) nesses países com relação ao PIB: Finlândia, 3,84%; Coreia do Sul, 3,36%; Brasil, 1,19%.
É preocupante a morosa evolução dos dispêndios em P&D com relação ao PIB no Brasil. Se em 2001 o investimento público em P&D correspondia a 0,57% do PIB, em 2004 esse índice baixou para 0,48%.
Em 2010, chegou a 0,63%, mas há o receio de que o valor volte a cair no fechamento das contas de 2011, uma vez que no ano passado, apesar do crescimento do PIB, aconteceram cortes nos gastos com P&D.
Há que se notar que os cortes no MCTI têm um agravante. Boa parte do seu orçamento sai do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), constituído por contribuições compulsórias de setores como petróleo, energia elétrica, transporte e informática.
No entanto, o governo federal, com a justificativa do superávit primário, retém parte dos recursos do FNDCT que, por lei, deveriam ser aplicados em ciência, tecnologia e inovação. Estudos apontam que de 2006 a 2010 a arrecadação do FNDCT somou R$ 11,8 bilhões, dos quais o governo reteve R$ 3,2 bi.
É importante que a sociedade saiba que as nossas reclamações contra os cortes em ciência não tem qualquer relação com questões de natureza corporativa ou salariais.
Nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação como componentes fundamentais para o crescimento socioeconômico do Brasil.
Temos claro que os cortes no MEC e no MCTI causarão prejuízos infinitamente maiores do que o montante que se está economizando agora.
HELENA NADER, 64, biomédica, é presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), membro da Academia Brasileira de Ciências e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)