PLOA 2025: orçamento do MCTI cresce, mas CNPq
perde R$ 76 milhões
Análise realizada pela assessoria parlamentar
da SBPC mostra impacto da distribuição de verbas para a Ciência, que pode
comprometer a gestão de bolsas de pesquisa
Com aproximadamente quatro meses de atraso, o
Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2025 foi finalmente aprovado na
última quinta-feira, 20 de março. Na análise dos recursos destinados à política
científica federal, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) terá
um orçamento 6,96% maior do que no comparativo com 2024, entretanto, um de seus
principais órgãos, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), lidará com uma perda de R$ 76 milhões
A análise foi feita pela assessoria parlamentar
da SBPC com base no relatório final do PLOA 2025. Essas interpretações sobre a
Lei Orçamentária Anual (LOA) e a execução orçamentária das unidades da
administração pública são realizadas como parte da articulação da SBPC nos
poderes Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir uma melhor
estrutura nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I).
Segundo o relatório final aprovado do PLOA
2025, o MCTI terá um orçamento de R$ 13.719 bilhões, superando seus recursos de
2024. Entretanto, este valor é R$ 2,961 bilhões menor do que o colocado na
proposta inicial do PLOA 2025. Tal diferença se deve pela aplicação da DRU, a
Desvinculação de Recursos da União, sobre os recursos do Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
A DRU é uma regra constitucional que permite ao
Governo Federal desvincular 30% das verbas carimbadas de órgãos ou fundos em
funcionamento no País, além das receitas de impostos, taxas e multas das
unidades da federação. Apesar de estar estabelecida há anos na gestão
orçamentária, a DRU tem um determinado período de validade, e estava vencida
quando a primeira versão do PLOA 2025 foi desenhada.
Tradicionalmente, é comum que os Projetos de
Lei Orçamentária Anual sejam elaborados já considerando a dedução de 30% da
DRU, mas como a primeira versão do PLOA 2025 foi encaminhada para votação em
agosto de 2024 e a DRU foi renovada apenas em dezembro, há uma discrepância de
valores entre o que foi proposto e o que foi aprovado pelo Legislativo.
Na prática, por conta do calendário de
tramitação da DRU, ela acabou sendo aplicada somente sobre os recursos
não-reembolsáveis do FNDCT, que saíram de R$ 10,301 bilhões no PLOA 2025
original para R$ 7,334 bilhões no relatório aprovado. Já a parcela reembolsável
do Fundo foi aprovada sem corte, totalizando R$ 10,301 bilhões.
Além da DRU, também é válido ressaltar o
impacto do caminho político percorrido pelo PLOA 2025, no qual as tramitações e
negociações no Senado Federal e na Câmara dos Deputados também afetam
diretamente a destinação de recursos.
No total, todas as unidades administrativas do
MCTI sofreram redução orçamentária no comparativo entre a primeira versão do
PLOA 2025 e seu relatório final, com exceção dos recursos destinados à
Administração Direta do Ministério, que teve um aumento de R$ 98,412 milhões,
fruto de emendas parlamentares.
Entretanto, a unidade do MCTI que perdeu mais
recursos foi o CNPq, que teve um corte de R$ 76,851 milhões. Com isso, o
orçamento final do órgão ficou em R$ 1,871 bilhão, o que representa 7,45% a
menos do que suas verbas de 2024.
Outro ponto preocupante acerca do CNPq é o fato
de que quase a totalidade desse corte ocorreu nas verbas destinadas à
“Formação, Capacitação e Fixação de Recursos Humanos para o Desenvolvimento
Científico”, nome dado para a programação das bolsas gerais distribuídas pelo
órgão. Houve um cancelamento de R$ 63,309 milhões nesta programática, agora
reduzida para R$ 1,246 bilhão, o que é 16,02% menor em comparação aos recursos
do ano passado.
O CNPq possui outra linha programática
destinada às bolsas de pesquisa, a “Formação e Expansão da Capacidade de
Pessoal Qualificado em Atividades de Pesquisa Tecnológica, Empreendedorismo e
Inovação”, que também sofreu um corte, de R$ 4,341 milhões. Mas, mesmo com essa
redução, a programática terá um orçamento 40% maior do que em 2024. De forma
geral, os números mostram que o CNPq deve ter um ano de 2025 com retração na
oferta de bolsas.
“A SBPC está muito preocupada com o PLOA 2025
porque ele consolida uma redução das verbas disponíveis para questões
essenciais no âmbito da Ciência e da Educação. Especificamente, o CNPq, cujo
foco é a pesquisa científica, foi bastante prejudicado. Vamos mobilizar a nossa
base junto ao Governo, a fim de que haja suplementações ao longo do ano, para
garantir que nenhuma bolsa seja cortada, que nenhum projeto aprovado tenha seu
financiamento recusado por falta de recursos para tal. Disso depende, como sempre
insistimos, o desenvolvimento do País”, pondera o presidente da entidade,
Renato Janine Ribeiro.
Outro órgão do MCTI que terá um orçamento
inferior ao de 2024 é a Agência Espacial Brasileira (AEB). No comparativo com a
proposta inicial do PLOA 2025, a unidade administrativa perdeu R$ 5,756 milhões
e terá um orçamento de R$ 131,4 milhões para gerir suas atividades, o que
representa 11,42% a menos do que seus recursos no último ano.
Um terceiro destaque são os recursos do Ceitec
(Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada). Apesar de ter um orçamento
29% maior do que o de 2024, o órgão perdeu R$ 1,2 milhão da já pequena previsão
orçamentária enviada pelo Executivo, ficando com R$ 59,169 milhões para 2025, o
que é suficiente apenas para sua manutenção. Cabe ressaltar que o Ceitec é um
ator citado constantemente nas novas políticas de Pesquisa &
Desenvolvimento do País, aparecendo na Nova Indústria Brasil e também na 5ª Conferência
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI).
A vice-presidente da SBPC, Francilene Garcia,
lamenta que os debates econômicos e orçamentários não acompanham as demandas
urgentes do mundo, que necessitam de aparato científico.
“Os cortes no orçamento do MCTI representam um
retrocesso para o Brasil, especialmente em um momento em que o país precisa
fortalecer a sua capacidade em pesquisa e inovação para enfrentar desafios
globais, como a crise climática. As demandas da 5ª CNCTI deixaram claro que a
expansão do sistema científico é essencial para o desenvolvimento sustentável e
para a soberania nacional. Às vésperas da COP 30, não podemos enfraquecer a
produção científica e tecnológica, justamente quando o mundo exige soluções baseadas
em conhecimento. É urgente reverter esses cortes e garantir investimentos
contínuos para que a ciência seja, de fato, um eixo estratégico do nosso
futuro”, conclui.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência, com apoio
da assessoria parlamentar da SBPC
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